….a Copa é tão brasileira quanto um comercial da Coca Cola…..

Copa ajuda a revelar a prevalência do mercado sobre interesses do Estado

O acarajé é proibido, mas a caixirola liberada, como o instrumento “oficial” da copa do mundo.

Quem quer que tenha chegado a uma ideia como essa, expõe em público o mais profundo desconhecimento da noção de cultura.

Poucas coisas poderiam ser mais fake, como essa de criar, de cima para baixo, um instrumento oficial.

Talvez a reabertura do Maracanã com um jogo dos amigos de Ronaldo, o homem-marketing cuja história está praticamente dissociada do estádio.

Ou o exótico nome do mascote, fuleco, que não é encontradiço em nenhuma das nossas tradições esportivas, muito menos folclóricas.

Pouco importa. A Copa do Mundo é tão brasileira quanto um anúncio da Coca Cola.

É um espetáculo de marketing traduzido ao português –e mesmo assim, mal traduzido.

O leitor que tente adquirir seu ingresso digitando São Paulo no site da Fifa vai perceber que o til nem sequer é reconhecido.

Não é à toa que eles se assustam com o nome de Mané Garrincha dado ao estádio de Brasília. Vetado, porque impronunciável.

O espetáculo da Copa do Mundo respeita profundas tradições da colonização, como a de expulsar índios para fazer um estacionamento.

Brasileiríssima, apenas, a hipocrisia da convivência entre a Comissão Nacional da Verdade e a coordenação do futebol brasileiro por quem esteve na linha de frente clamando por mais repressão.

Nós estamos modelando nossos estádios para as áreas vip exigidas pela Fifa, liberando a cerveja que vitamina os patrocínios e criando procedimentos jurídicos e instâncias decisórias, durante a rápida passagem desse cometa.

Nada que não nos seja propriamente inédito, mas que nunca esteve tão explícito. A soberania do Estado não tem valor superior ao conglomerado de empresas e recursos que aqui aportam.

Podemos criticar a Copa pelo elitismo do evento que já abriu a venda de ingressos com preços estratosféricos.

Podemos criticar a remoção de moradias populares que estavam no caminho desses novos bandeirantes dos negócios esportivos.

Podemos reclamar do volume de dinheiro que deixou de ser empregado na habitação, saneamento ou no transporte público.

Mas não podemos dizer que a Copa não nos ajuda a conhecer melhor uma realidade que já é patente e vez por outra se esconde: a prevalência do mercado sobre os interesses do Estado.

O exemplo de Wall Street, como o símbolo do sistema financeiro que interage com a economia muito mais do que a Casa Branca (para quem não se cansa de fornecer consultores), ou mesmo da grande mídia que pauta sem cessar, como verdade inabalável, os incansáveis mantras do neoliberalismo: monetarismo, arrocho, privatização etc.

Existe um enorme descontentamento com a classe política, tida por apática, pouco representativa e corporativa, quando não corrupta.

Mas o que a falência da política pode nos provocar é ainda mais perigoso: a capitulação dos instrumentos do Estado frente às grandes corporações.

O neoliberalismo abandonou a tradição liberal de desregulamentação.

As empresas já não querem mais acabar com o Estado. Querem se apropriar dele.

O braço forte deste Estado entregue aos interesses do mercado é um sistema punitivo cada vez mais intenso, que corrige e segrega os excluídos da manta social.

O estado policial que se constrói com ajuda da sistemática exposição da violência na mídia é o pontapé inicial para o sepultamento do que sobrou do estado social.

Se nos intervalos da Copa, assistirmos campanhas pela redução da maioridade, contra o terrorismo, ou apenas a crítica à invasão de ambulantes nas proximidades das arenas, não estranhemos.

Faz tudo parte do mesmo pacote.

Um comentário sobre ….a Copa é tão brasileira quanto um comercial da Coca Cola…..

  1. Benício Golfinho 4 de maio de 2013 - 12:04 #

    Quer saber mais?

    Sou baiano, capoeirista e a caxarola nem é tão nova assim. É fake do aproveitamento oportunista daquilo que se sabe já estar lá. Olha isso:

    http://www.sigoadiante.com/2013/05/ora-caxirola.html