Quem lida com o humano não pode estar imune ao sofrimento
O artigo que segue é da psicóloga Isabel Hamud* e discute a importância da dor. Um incômodo necessário no amadurecimento humano, ao qual sempre procuramos evitar, quando não ignorar. Como a sociedade, que busca harmonia, sem perceber que o equilíbrio pressupõe forças opostas.
Por que a dor?
Dor… palavra sem juízo, sem sentido, sem lógica, sem nada… mas, ainda assim, cheia, carregada, repleta, completa de significados.
A dor é uma coisa esquisita… para a biologia, traduz um incômodo ou desconforto que sinaliza um desequilíbrio, sinal de que algo vai mal ou está errado no organismo. Para a humanidade, a dor é mais intensa, é visceral, rasga a alma e transcende qualquer explicação. De qualquer forma, marca um movimento.
Todo mundo deseja tranquilidade, serenidade, paz, estabilidade, mas ninguém é capaz de suportar a paz constante (não seria isso, justamente, a morte?!).
A dor traz consigo, sempre e necessariamente, sofrimento. Na verdade, poderíamos dizer que a dor nada mais é senão justamente a expressão de um sofrimento.
É muito duro, mas tenho que admitir que as pessoas mais humanas que conheço, são as que mais sofreram…
Não acho bom o sofrimento, mas é no mínimo interessante ver como as pessoas que sofreram amadurecem sua humanidade! A angústia pode nos paralisar ou nos mobilizar… precisamos encontrar o bom termo para suportá-la e fazer um bom uso de sua energia.
Na famosa obra “Crime e Castigo”, Fiódor Dostoiévski afirma: “O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes devem, parece-me, experimentar uma grande tristeza.”
Quem lida com o humano não pode estar imune ao sofrimento. É necessário um incômodo para que possamos prosseguir, seguir em frente, continuar… mudar algo!
Existem experiências que são essencialmente tristes e que precisam ser assim; evitar a dor não muda nada, só posterga o sofrimento.
Não olhar para a dor apenas nos impede de encarar uma possível superação.
Não quero, aqui, exaltar nenhum sofrimento; pelo contrário, gostaria de saber como poderia ser possível fomentar uma estratégia de mudança antes que o desconforto esteja presente. Se pudermos ter a sensibilidade de buscar a humanidade sem ter que encarar a dor, que assim seja!
Freud chamou de “Principio do Prazer” a lógica que rege nossa energia vital, lógica esta entendida pela psicanálise enquanto desejo de “buscar o prazer e evitar a dor”.
Por enquanto, a experiência mostra que tendemos sempre a evitar a dor e manter distância de todo e qualquer elemento que a revele. Neste sentido, a sociedade busca uma homeostase desconsiderando que o equilíbrio só existe quando há forças opostas. Não por acaso o símbolo da justiça é uma balança, certo?
Nesta sociedade, o crime é sempre uma explosão. Que escancara o desequilíbrio, revela e produz dor de todos e por todos os lados…
Costumo dizer para quem trabalha nesta área que, se algum dia, a miséria (em seu mais amplo sentido) for aceita e naturalizada, algo muito errado está acontecendo. A dor, assim como qualquer outro estímulo sensorial, desaparece quando ignorada. E se ela desaparece, esteja atento e alerta: algo está muito errado e não deixa de estar por não ser percebido!
*Isabel Hamud é especialista em Psicologia Jurídica e trabalha no sistema prisional paulista
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A visão do mortal comum é esta mesmo!
Evitar a dor a qq preço, mas qdo temos a oportunidade de "limpar nossa visão" de nos "iluminarmos", "Polir o espelho da nossa vida, compreendemos a dor como mais um fato da vida. O sofrimento sim este é opcional! Posso estar vivendo uma situação extremamente dificil, mas ainda assim estar feliz!
O sofrimento é um trampolim para nosso desenvolvimento, sem ele vivemos na mesmice.