Faz parte do jogo que os bancos queiram ter lucros ilimitados. Faz parte do jogo que a regulação do Estado não permita
Quando a presidenta Dilma Roussef citou Guimarães Rosa em seu discurso de posse, lembrando que a “vida quer da gente coragem”, nem os mais otimistas podiam supor que no ano seguinte ela iniciaria uma violenta queda de braço com as instituições financeiras. E com grandes chances de ganhar.
Aliado a um forte discurso evocando a “lógica perversa” dos juros altos, a presidenta vem forçando a queda da taxa Selic e com a ação de seus bancos públicos pressionando para baixo os juros ao consumidor.
Críticos mais ansiosos se precipitaram em reduzir sua fala no Dia do Trabalho a uma ação populista.
Mas nos dias que se seguiram, o governo anunciou a alteração do rendimento das cadernetas de poupança, um tema tabu que nenhum de seus antecessores, inclusive o carismático e popular presidente Lula, tiveram coragem em tocar. No governo anterior, aliás, o vice José Alencar morreu atacando sozinho os juros altos.
Durante muitos anos, a imprensa especializada inundou de críticas a elevada taxa de juros -a “maior do mundo”. Dizia-se que ela punia a indústria e estancava o crescimento.
Mas quando o governo, enfim, resolveu tomar medidas para reduzi-la, muitos se acomodam em ressalvas, demonstrando a hipocrisia estampada nos editoriais.
Não é à toa.
O premiado documentário “Trabalho Interno” revelou, nos Estados Unidos, o enorme conflito de interesses que havia entre os mais prestigiosos intelectuais da economia, que assistiram praticamente inertes à crise de 2008. Apurou-se que parcela significativa dos acadêmicos também prestava serviços ao sistema financeiro.
O possível crescimento da inflação, a falta das reformas estruturais, o abandono da austeridade. Quando o discurso liberal mostra suas garras, em regra esconde o fato de que até um pequeno decréscimo da taxa básica de juros já resulta em uma economia de bilhões para a dívida pública.
A pujança do capital no financiamento de políticos não pode ser desprezada, o que torna a decisão da presidenta ainda mais corajosa.
Além das altas tarifas para serviços que os próprios juros já deveriam remunerar (como a abertura de cadastro), a estratosférica taxa cobrada pelos bancos ao consumidor para tomada de empréstimos também é incompreensível.
Os bancos se defendem com números sobre inadimplência, de modo que os bons pagadores estariam se responsabilizando pelos maus.
Com esse mesmo pretexto, para facilitar a cobrança de créditos e reduzir a taxa de juros, já se alterou até a Lei de Falências. Ela ampliou a proteção dos bancos e limitou a preferência do crédito trabalhista. Mas nenhum efeito causou nos juros, como se viu.
A inadimplência certamente não explica o alto custo do dinheiro.
Quem quer que já tenha recebido uma fatura de cartão de crédito, pôde perceber as inúmeras propostas que as instituições financeiras fazem para que seus clientes não quitem logo suas dívidas, sugerindo que contraiam outras, com juros falsamente aprazíveis.
Os próprios bancos estimulam a inadimplência para que possam cobrar mais caro por ela depois.
Faz parte do jogo que os bancos queiram ter lucros ilimitados. Faz parte do jogo que a regulação do Estado não permita.
Por sorte nossa, o turbilhão privatista que varreu o país por mais de uma década, não chegou ao limite de conferir autonomia ao Banco Central como pretendia (o que teria esvaziado o poder do governo) e não conseguiu vender os bancos públicos federais (que hoje representam importante papel de pressão para a queda dos juros).
Depois de um começo de governo em que se equilibrou para lidar com uma complicada base parlamentar, fatiando o ministério e fazendo mudanças pressionadas pela imprensa (que nem sempre agiu com propósitos dignos, como agora se sabe), é louvável que Dilma tenha finalmente incorporado na ação política, aquela figura enérgica com que sempre foi descrita nas crônicas palacianas.
É óbvio que ninguém quer uma presidenta que ultrapasse os poderes de seu cargo e nem que os utilize como álibi para tomar decisões impopulares e sufocar críticas.
Mas que esse novo figurino dama de ferro lhe permita, ao menos, enfrentar a bancada religiosa, em nome do combate à homofobia, os ruralistas, para vetar um código essencialmente desflorestal, e os militares saudosos da ditadura, para colocar em funcionamento uma Comissão da Verdade que faça jus a seu nome.
Perfeito. O momento histórico e a biografia de Dilma é o casamento ideal, dos sonhos, para a vida brasileira. A nossa presidenta está atenta aos anseios do povo brasileiro e a eles atenderá, eu penso que não reste mais dúvida sobre isso. Popularidade em alta, oposição se desfazendo e uma grande imprensa cada dia mais desacreditada e está configurado as condições para as medidas cabíveis a cada caso.
E, também, nem de longe vislumbro alguma reação de Dilma além de seus poderes constitucionais, dado que nem sequer serão precisos cogitar. Hoje vi nota do Joelmir Betting dando conta que a inflação esse ano estará abaixo do mínimo da meta, ou seja, abaixo de 4,5%. Governará soberana e sabiamente, nem tem como se duvidar disso.
Muito bom. Estabelece com clareza as posições acertadas da nossa Presidenta. Está mais que na hora de enfrentar esse descarado e vergonhoso sistema de "agiotagem" oficilizado. E para isso é preciso bater de frente, firme e com um objetivo sómente. Parabéns Dr.Marcelo Semer.