O novo papa mostrou simplicidade e carisma; repetirá a trajetória popular e conservadora de João Paulo II?
Como resultado, é para marqueteiro nenhum botar defeito.
Em menos de uma semana de papado, o cardeal Jorge Mario Bergoglio ganhou corações e mentes como a nova face da simplicidade da Igreja, até a pouco mergulhada em escândalos financeiros e sexuais.
Foram-se as notícias de intrigas da Cúria, os dossiês secretos, a pedofilia por debaixo do tapete.
Em seu lugar, a figura de um papa humilde, que estranha o tamanho da residência papal, economiza nas vestes e na liturgia e recusa um anel de ouro.
Um jesuíta que se transformou em franciscano ao colocar a mitra.
Difícil entender como tamanha alteração de sentido tenha sido provocada por uma eleição quase unânime do colégio eleitoral que se dizia dominado por cardeais fortemente conservadores, em sua maioria nomeados pelo renunciante Joseph Ratzinger.
Para quem supunha que o Vaticano precisaria de uma refinada consultoria de imagem, em razão dos vazamentos de papéis secretos e investimentos suspeitos, que sepultaram o papado de Bento XVI, é de surpreender a rotação em um tempo tão curto.
A mídia concentrada na exaltação do Papa ajuda a explicar o sucesso desse simbolismo –os especialistas, aliás, ainda nos devem uma explicação de como uma alternativa tão próxima (bem colocada no último conclave e articulada pelo ex-arcebispo de São Paulo) nos era totalmente desconhecida.
Da mesma forma, dependeremos de um jornalismo sem temor reverencial para conhecer o tamanho da omissão ou conivência de Bergoglio com a repressão dos anos de chumbo da ditadura argentina.
O certo é que não há notícias de manifestações de repúdio, como aquelas que fez contra os mais recentes presidentes da era da democracia.
Que o novo papa tem mais carisma e mais simpatia que Ratzinger não se duvida.
Francisco desce do carro para saudar os fiéis e rompe protocolos para se mostrar no patamar daqueles que o saúdam. Tem tudo para ser o novo Papa-pop.
A questão é saber se não vai repetir a trajetória de João Paulo II, festejado pela enorme empatia popular, mas que culminou com um papado de forte conservadorismo, sufocando divergências e comprimindo as parcelas mais progressistas ou liberais da Igreja, como a Teologia da Libertação.
Pelo menos o teólogo Leonardo Boff, um dos punidos à época, tem dado declarações otimistas sobre o novo papa.
O tempo vai dizer com que linhas serão escritas essa história.
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