Mas como enterrar o passado/Se não temos os corpos?
Como perdoar o pecado/Se não nos deram os mortos?
Alessandro da Silva é Juiz do Trabalho em Santa Catarina. Membro da Associação Juízes para a Democracia e coautor de “Direitos Humanos: Essência do Direito do Trabalho” (Ed. LTr). Na poesia que segue, destila indignação com as pressões contra a instalação da Comissão da Verdade: razões de Estado, perdão forçado, recíprocas concessões? Mas “como enterrar o passado se não temos os corpos?” A resposta é uma só: nada menos que a verdade.
Nada menos que a verdade, Alessandro da Silva
Ouvi falar
Em razões de estado
Perdão forçado
Feridas a cicatrizar
Ouvi dizer
Que é melhor deixar pra lá
Ficar tudo como está
Que haveremos de esquecer
Filhos esquerdistas
Amigos comunistas
E aquele jornalista
Operários insatisfeitos
Artistas suspeitos
E até algum prefeito
Querem me convencer
Foram recíprocas concessões
Os gritos no porões
O sangue a escorrer
Além do mais
Foi pior na Argentina
Ainda acontece na China
O tempo tudo desfaz
Mas como enterrar o passado
Se não temos os corpos?
Como perdoar o pecado
Se não nos deram os mortos?
Toda a gratidão
Aos que lutaram pela liberdade
Da comissão
Não aceito menos que verdade
Muito bom, gostei mesmo sou favorável a comissão da verdade o que me preocupa é a busca da verdade com o objetivo implícito de se praticar o revanchismo, tenho medo que essa verdade seja forjada por certos interesse ou para legitimas a instalação de outra forma de ditadura por grupos que hoje buscam a verdade e usam a mídia para esconder verdades contemporâneas. Estou falando da crise na segurança pública em nível nacional e como o governo federal e o estadual da Bahia tem conduzido essa crise. Também quero a verdade, mas confesso temer a verdade absoluta. Augusto Júnior – Cidadão Marginal Coordenador da ASPRA em Ilhéus