….o juiz e as redes sociais….

Convívio nas redes sociais ajuda a entender e praticar a dimensão humana do juiz

O artigo que segue foi publicado no Jornal O Povo , de Fortaleza, e antecipa o III Encontro da Magistratura Cearense, do qual tomarei parte, em 04/11/11, para discutir Judiciário e Mídia.

O juiz e as redes sociais

Muitas pessoas questionam acerca da participação de juízes nas redes sociais. Há exposição? Pode haver comprometimento da função jurisdicional? Não se corre o risco de criar inimizades que interfiram no serviço?

Durante muitos anos, os juízes se mantiveram em uma certa reserva, partindo de três dogmas de comportamentos: o juiz não deve se enfronhar em relações sociais que diminuam sua capacidade de julgar; o juiz é neutro, não tem posições políticas; o juiz não manifesta opiniões, porque só fala nos autos.

Esse isolacionismo a que fomos submetidos partia de algumas premissas falsas, outras irrealizáveis.

Não é possível isolar o juiz de seus relacionamentos sociais, porque ele só pode julgar sendo um membro da sociedade e não um corpo estranho a ela.

A neutralidade não existe. Toda decisão carrega uma escolha que é política, valores que se sobrepõem na interpretação da Constituição e das leis.

O juiz é um cidadão e tem direito a suas próprias ideias e opiniões. A liberdade de expressão que incumbe garantir aos outros também lhe pertence.

O recolhimento do juiz, no que se acostumou a chamar de ‘torre de marfim’, não trouxe efeitos positivos: o juiz não toma parte da sociedade que julga, e a sociedade estranha e receia a figura do juiz. Acaba como um estrangeiro.

Temos que entender que é exatamente na mescla entre servidor e cidadão que o juiz encontra seu verdadeiro papel na sociedade.

Twitter, facebook, entre outros, são instrumentos modernos de comunicação que até os tribunais começam a incorporar a suas rotinas.

As vantagens são muitas: a rapidez, a disseminação e a formação de uma rede de contatos valiosa. É lógico que, como toda forma de comunicação, pode haver ruídos, mas não é um risco maior do que nas demais, como a imprensa escrita.

Penso que o convívio nas redes sociais ajuda a entender e praticar a dimensão humana do juiz.

É importante que as pessoas compreendam que o juiz é um cidadão como outros. Tem um serviço extremamente relevante, mas também sentimentos e preocupações comum às pessoas.

Quando mais a sociedade tomar contato, maior a chance de se dissipar as imagens genéricas e estereotipadas que se criam sobre os magistrados. Não são relações visíveis que devem nos preocupar, mas as escusas e ocultas.

De nossa parte, resta compreender que a Justiça é um serviço ao público e não nos fecharmos ao corporativismo.

Afinal, fazemos parte do Poder Judiciário, mas ele não nos pertence.

2 Comentários sobre ….o juiz e as redes sociais….

  1. Bruno Morais di Santis 2 de novembro de 2011 - 16:35 #

    Muito bem exposto caríssimo. Eu como um homem comum na sociedade e enquanto estagiário de direito sinto os Magistrados em um outro plano, algo superior, algo infactível para a sociedade e até mesmo para muitos operadores do direito. Comecei a mudar esta visão na Academia, onde alguns professores são Magistrados e, pelo menos enquanto professores, eram muito humanos, muito sociais. Agora, por meio do Blog Sem Juizo, tomei contato virtual com as ideias de muitos Juizes e percebi pessoas por trás das togas. Concordo plenamente com a última exposição deste blog, mesmo quando das decisões proferidas por Juízes que trazem em si um certo e determinado ideário, o que não constitui nenhuma deturpação na função jurisdicional quando estiver bem fundamentado. A internet pode e consegue democratizar e aproximar os Juízes da sociedade.

  2. Ivanhoé E. Ferreira 2 de novembro de 2011 - 20:59 #

    Dr. Semer.Parabéns pela manifestação e publicação da matéria em questão. Labutei muitos anos no Poder Judiciário como Serventuário e sempre achei que chegaria o dia em que novos Juízes sentiriam a necessidade da aproximação com a sociedade. Feliz estou pois esse dia está perto de chegar. Conte sempre com meu apoio e divulgação. Atenciosamente
    Ivanhoé Eggler Ferreira
    http://ivanhoeegglerferreira.blogspot.com/