….quem disse que Thêmis usa mocassim?….

Um juiz-poeta repleto de humanismo

“Assim, a melhor forma de prevenção
do possível embrutecer da alma,
que na treva acomoda-se na escuridão,
deve-se julgar como se faz poema,
com uma mão na pena e outro no coração”

Denival Francisco da Silva é juiz e poeta; mais do que isso é um poeta-juiz.

Seus “poemas reconvencionais” têm como mote artigos da Constituição Federal e demonstram uma perene luta pela humanização do ato de julgar e uma incontrolável indignação com as violências do cotidiano que atingem aos mais vulneráveis: “Reconvir é indignar-se sempre quando se vê aviltado/um semelhante, sem deixar de se resignar”.

Do extenso rol de seus versos indignados deste “Poemas reconvencionais” recém-lançado, lê-se desde a crítica aos vícios da linguagem jurídica ao silêncio perturbador das violações de direitos humanos. Segue o contundente “Pés de Chinelo”, com que o autor-juiz se rebela contra o que foi considerado “ofensa à dignidade da justiça”:

Pés de Chinelo
(e quem disse que Themis usa mocassim!?)

Pés de chinelo,
Pés amarelos,
Pés magrelos,
Pés em frangalhos…

Chilepe! Chilepe! …lepe! … lepe!
É o somo das sandálias havaianas
Em pés acanhados, querendo se esconder
Na barra da calça. E quem as calçam constrange-se
Ao olhar de todos que se voltam à procura do som:
Chilepe! Chilepe! …lepe! …lepe!

E assim, em passos acelerados, com som repicado,
O indivíduo cabisbaixo, em busca da dignidade,
Transpõe o corredor até alcançar a sala de audiências,
Para um ralhar autoritário de que calça mocassim:
Qual coisa, qual nada! De chinela desgastada,
Nada se diz, nada se fala! Só se ouve e se cala,
Veja que ridículo, que horror! Quanta ofensa, que despudor!
Com estes trajes de postiça para se apresentar diante do pretor
Isso é um acinte, um ultraje, uma ofensa à dignidade da Justiça!

(ao trabalhador, pés de chinelo, Joanir Pereira, que sequer teve o nome expresso na ata de audiência)

Para conferir mais das indignações de Denival, em prosa e em verso, visite o Blog Sedições

3 Comentários sobre ….quem disse que Thêmis usa mocassim?….

  1. Xad Camomila 16 de janeiro de 2012 - 23:50 #

    Gostei. Segue aí o repente do CNJ:

    A JUSTIÇA NA BERLINDA

    O grande Montesquieu
    Quando pensou o Estado
    Dividiu em três poderes
    Harmônicos, mas separados
    Falou em alto e bom som
    Que seria muito bom
    Ter os três bem controlados.

    Porém, o Judiciário
    Não se deixa investigar
    Com medo que se descubra
    As mazelas que tem lá
    Correições iniciadas
    Hoje estão paralisadas
    Por força de liminar.

    Se o Poder Judiciário
    Fosse mais bem controlado
    Seria mais eficaz
    Daria mais resultado
    A lei não deu ao juiz
    O que alguns sempre quis
    Que é não ser investigado.

    O sentimento da gente
    Pela justiça é descrença
    Da primeira a última instância
    Não tem qualquer diferença
    São processos dormitando
    E o povo até comentando
    Sobre venda de sentença.
    Se pobre não tem dinheiro

    Não pode comprar sentença
    E quem vende o seu direito
    Não merece complacência

    Nessa luta desigual
    É melhor cortar o mal
    Na raiz da excrescência.

    É claro que toda regra

    Traz no bojo a exceção

    Como tem juiz honesto

    Tem também os que não são

    Portanto, é bom deixar
    A ministra investigar
    Quem anda na contramão.

    Salve Eliana Calmon
    Destemida e competente
    Que zela por uma justiça
    Sem privilégio e decente
    Pois não aceita malfeito
    De quem aplica o direito
    Em prejuízo da gente.

    Edmar Melo

  2. Anônimo 18 de janeiro de 2012 - 17:48 #

    Sei bem do que o Dr. Denival quer falar com o seu "Pés de chinelo". No Fórum da Capital goiana, quem não vai vestido de gala é quase preso na entrada pelos Policiais Militares. Kássio Costa

  3. Anônimo 27 de fevereiro de 2012 - 22:31 #

    Tudo o que vc falou sobre o carnaval foi exatamente o que eu tbem penso sobre a emissora rede globo.