….A sentença que liberou Ulisses de Joyce, nos EUA (documento)….

 
Na longínqua
época em que juízes eram censores, um se descortina hábil crítico

 

 

 

“Li uma vez
Ulisses na íntegra e reli muitas vezes aquelas passagens que foram objeto
especial de representações do governo. Durante várias semanas, praticamente
todo meu tempo livre foi dedicado a refletir sobre a decisão que me cabia tomar
nessa questão.”

Texto de John
M. Woolsey, juiz distrital nos EUA, na sentença que autoriza a entrada de
Ulisses de Joyce nos Estados Unidos, em 1933 (extraído de “A cultura do romance”,
org. Por Franco Moretti – CosacNaify).

A questão
girava sobre a acusação de obscenidade (se
se chegar à conclusão de que o livro é pornográfico, pode-se dar o inquérito
por encerrado, resultando em apreensão
).

Mas a
resposta do culto juiz ao apelo do governo norte-americano pela apreensão é
outra: em Ulisses, apesar da sua invulgar
franqueza, não vejo em parte alguma a malícia do sensualista.

E na tarefa
de censor, descortinou-se um hábil crítico.

Joyce tentou –julgo que com
extraordinário sucesso- mostrar como se projetam, como que sobre a tela da
consciência com suas caleidoscópicas impressões em transformação contínua, como
um palimpsesto flexível, não apenas os objetos físico presentes no campo visual
que cada homem tem diante de si, mas também em uma zona de penumbra,
substâncias residuais de impressões passadas, algumas recentes e algumas
obtidas por associação no território do subconsciente. Além disso, ele mostra
como cada uma dessas impressões influi na vida e no comportamento do personagem
descrito.

Vale a pena
conhecer na íntegra a sentença como um documento histórico, da longínqua época,
tão tão distante, em que juízes agiam como censores….

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