….Richtofen, um romance policial….

Quem procura bastidores da investigação não sairá frustrado da leitura

Richtofen, de Roger Franchini

Você leria um livro policial do qual já sabe o fim da história?

Foi assim que eu me deparei com “Richthofen” (Ed. Planeta), de Roger Franchini.

Já sabemos quem morreu e quem matou. E ainda assim, a história nos envolve.

Escrita em ritmo próprio de romance policial, em que uma página puxa a outra, o livro é engolido em poucos dias. O autor consegue manter o thriller, provocando o leitor a acompanhar o fato por mais de um ângulo.

Acertadamente, Franchini evita focar o romance em Suzane, o que seria mais óbvio. Reproduz conversas com os pais e com os irmãos Cravinhos, mas tanto ela quanto os corréus estão longe de representar o epicentro da narrativa.

Esse se desloca para os policiais, mais especificamente para o investigador Eduardo, ao redor de quem os demais circundam.

Eduardo não é cerebrino como Hercule Poirot ou intrépido como Philip Marlowe.

É amoral, esconde um nebuloso passado na polícia e não se constrange em intimidar ou extorquir quem for preciso para atingir objetivos. Seu maior trunfo advém dos próprios vícios, o conhecimento da natureza humana na tênue linha que nem sempre separa com precisão a polícia e o crime.

Uma foto da vítima abraçada com o governador que some do local dos fatos, as suspeitas de corrupção na empresa pública em que trabalhava o morto, a guerra de vaidades durante o inquérito.

Quem procura bastidores da investigação não sairá frustrado da leitura.

Mas não se espere de “Richtofen”, o clima exaustivamente descritivo do novo jornalismo que se encontra em Truman Capote (“À Sangue Frio”) ou Rodolfo Walsh (“Operação Massacre”).

Franchini não abdica da experiência de seis anos de polícia civil para navegar com tranquilidade pelas águas turvas do crime e de suas investigações, como já o fizera com “Toupeira”, sobre o furto no Banco Central.

Agrega, sem abrir mão da leveza do texto, os elementos colhidos durante as investigações policiais, nem todos até então conhecidos do público.

Mas a proficiência na construção psicológica dos personagens, tão interessantes e complexos como o tira Eduardo, descortina uma capacidade que apenas se encontra em bons ficcionistas.

E isso só lhe ajuda na tarefa a que pretendeu.

Afinal, como diz a epígrafe de Pablo Picasso que encabeça o livro, “a arte é uma mentira que nos ensina a compreender a realidade”.

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