….o STF e a viagem de Gilmar….



Juiz quer saber se STF pagou viagem de ministro

O ministro Gilmar Mendes andou dizendo que vai tanto a Berlim, quando Lula a São Bernardo. Esclareceu que lá mora uma filha sua. Mas para comprovar que não recebeu presentes, disse também que sua passagem para um seminário na Europa foi paga pelo STF. Parece que nenhum jornalista se interessou pelo assunto. Mas na brecha da recentíssima lei de acesso, o juiz do trabalho Reginaldo Melhado, indagou ao Supremo, sobre a veracidade da informação:

“Solicito informações sobre a finalidade da viagem realizada pelo Min. Gilmar Ferreira Mendes à Europa em abril de 2011, onde teria participado de evento acadêmico na Universidade de Granada. Segundo divulgado nos meios de comunicação (em 29.05.2012), as passagens aéreas de Sua Excelência teriam sido pagas pelo STF.

Peço confirmação dessa informação, com especificação (a) do valor pago, (b) da companhia aérea e da classe da passagem – econômica, executiva ou primeira classe –, (c) da finalidade da viagem, com indicação do evento e do período de sua realização, e (d) se houve o pagamento de diárias, mencionando-se, em caso positivo, o valor respectivo. Peço, finalmente, que eventuais cópias de
documentos sejam enviadas por meio eletrônico. O pedido tem fundamento no art. 5º, XXXIII, da Constituição da República, e na Lei 12.527/2011. (Protocolo de nº 117793)”.

Aguardemos a resposta.

7 Comentários sobre ….o STF e a viagem de Gilmar….

  1. Devayr Jr. 3 de junho de 2012 - 14:03 #

    Semer, tenho acompanhado suas manifestações acerca do episódio em que o Ministro Gilmar Mendes acusa o ex-presidente Lula de tentar fazer pressão para que o julgamento do Mensalão seja adiado, e devo dizer que fico impressionado com o fato de, desde o primeiro momento, os adeptos do chamado "lulismo" têm se pautado em, antes mesmo de verificar a veracidade das acusações, atacar o acusador, tentando desmoralizá-lo. Partem sempre do pressuposto de que qualquer acusação contra o "santo" Lula é mentira, ainda que venha de um ministro do STF (a quem, particularmente, não tenho a menor simpatia). A ênfase que tem sido dada à aludida frase ("vou a Berlim como Lula vai a São Bernardo") ilustra bem essa situação. Um aparente mero exagero por parte do interlocutor vira motivo para investigação, enquanto o que deveria ser o principal, que é a alegada pressão, torna-se convenientemente secundário. Esperava mais ponderação e menos paixão de um juiz de Direito. Abraço.

  2. Marcelo Semer 3 de junho de 2012 - 15:07 #

    Devayr. A mim me interessa a postura do Gilmar Mendes, que é juiz. Em 22 anos de carreira, nunca me passou pela cabeça conversar com parte interessada em um processo criminal no escritório de um advogado. A Gilmar, que presidiu o CNJ quando da edição do Código de Ética tampouco deveria ter passado. Se de fato aconteceu pressão, é estranho que um ministro do STF tenha preferido buscar as páginas de uma revista semanal a denunciar no próprio STF. E a arrogância em dizer "viajo mais pra Berlim do que Lula para São Bernardo" pode estar escondendo um equívoco a meu ainda maior: o gasto de dinheiro público para uma atividade particular. A política partidária pouco me interessa; mas a conduta dos juízes sim. A um Judiciário menos corporativo, essa é questão principal.

  3. Démerson Dias 3 de junho de 2012 - 17:17 #

    Suponhamos que Gilmar esteja falando a verdade, o que acho absurdo. O que foi fazer um ministro do STF numa reunião privativa com um envolvido em um caso que estará sob sua apreciação? Pelas moral e histórico desse "magistrado" que solta banqueiros corruptos e faz denúncias que não se confirmam, faria todo o sentido do mundo Lula tentar dar um jeitinho no mensalão. Mas a pergunta que antecede todas as demais é o que ele foi fazer lá!? Fico achando que Lula não levou L'argent suficiente.

  4. Renata 5 de junho de 2012 - 19:36 #

    Marcelo,
    Que ótima inicitaiva deste juiz! Quando houver a resposta (espero que haja, e rapidamente), você pode pubiicá-la aqui também? Concordo contigo que precisamos fiscalizar os gastos do Judiciário. O CNJ mostrou que a má administração de recursos públicos não é um defeito apenas do Poder Executivo e Legislativo.
    Senpre bom ler o que você escreve!

  5. Bruno Morais di Santis 5 de junho de 2012 - 21:30 #

    Caríssimo Marcelo,

    Adorei o post e a atitude deste magistrado que honra a nobre função que exerce.

    Há vários pontos de incongruência nas alegações de Gilmar Mendes – sujeito este que não disperta a simpatia de ninguém, visto seu caráter "exemplar" -: (i)o fato de um Ministro do STF estar num escritório de advocacia fazendo uma reunião com um líder do partido político que é casa de vários réus em processo que julgará; (ii)as inúmeras viajens à Berlim, inclusive sendo pagas pelo STF (objeto da solicitação de informações que deflagrou este post); (iii)as declarações claudicantes perante a mídia acerca da realidade dos fatos; (iv)o fato de ir procurar uma revista que, diga-se de passagem, tem conteúdos duvidosos, ao invés de procurar o próprio órgão que é membro, e; (v)porque o Lula teria o procurado, sendo que (Gilmar Mendes) sempre demonstrara posição contrária ao PT (Partido dos Trabalhadores) e também tendo mais de 5 Ministros como sua indicação para o STF, os quais, em tese, seriam mais afins ao seu pedido.

    Contudo, há outra indagação: se estes fatos forem provados inverídicos, até quando a "velha mídia oligárquica" será braço de ações que defrontam a democracia?

    Ressalto que, não temos o intuito de proteger o "Lula" (mesmo gostando de alguns de seus feitos e reprovando muitos outros), mas sim questionar um Ministro que lançou uma conversa sem fundamentos na mídia, com todo o respeito, afim de atender algum interesse escuso.

  6. Andre Ribeiro 29 de junho de 2012 - 21:29 #

    Marcelo

    Descobri o seu blog hoje. Gostei muito do que li. É bom ver que no Judiciário tenham cabeças abertas como a sua. Eu gostaria de saber se existe no Judiciário um movimento para que a justiça possa sair do controle das elites. E que o chavão popular, cadeia é para o PPP, vire definitivamente uma lembrança do passado.
    obrigado.

  7. Anônimo 23 de julho de 2012 - 15:36 #

    Enfim, uma luz neste beco escuro! Caro Semer, parabéns pelas análises judiciosas e aprofundadas.