….guerra às drogas e os adolescentes internados….

 Cresce 1000% o percentual de adolescentes internados por tráfico de entorpecente em SP na última década
 
 

A guerra contra às drogas não é apenas uma fábrica de
prender pessoas.

É também de internar adolescentes.

Os dados sobre a evolução da internação impressionam.

A tabela* acima retrata o volume e percentual de
adolescentes internados na Fundação Casa. Chama atenção o pulo que dá o
percentual de adolescentes internados por atos infracionais correspondentes ao
tráfico de drogas: em 12 anos, um crescimento de cerca de 1000% (de 4,76% para
42,08%).

No mesmo período, adolescentes internados por roubo
decresceram, proporcionalmente, de 63,19% para menos de 43%.

E o latrocínio, tema base da retomada do mote para a redução
da maioridade penal representa apenas 1% das internações (contra 3, 02% em 2000,
um decréscimo mesmo em se considerando valores absolutos, tomando-se por medida
o aumento da internação).

Furtos e homicídios também desceram em termos relativos e
absolutos. O homicídio deu, por exemplo, um salto de 9,45% das internações em
2004 para 0,78% em 2012.

Os estupros se mantiveram em mesmo patamar. Há apenas 0,07%
de adolescentes internados na Fundação pela prática de extorsão mediante
sequestro.

A estatística é um banho de água fria nas propostas de redução
da maioridade: a maior internação dos adolescentes não está vinculada ao
aumento de crimes com violência ou grave ameaça que supostamente exponham a
sociedade a maiores riscos.

Mais aos equívocos da guerra às drogas que, sob o pretexto
de tutelar a saúde pública, conseguiu
a proeza de abarrotar as prisões, afastar o viciado do tratamento, enrijecer e
enriquecer as facções criminosas e expor a polícia a um grau elevado de
violência e corrupção –sem decrescer em nada o consumo de entorpecentes e, por
consequência, sem nenhuma melhoria para a saúde pública.

Poucas políticas criminais podem se dar ao luxo de cometer
tantos equívocos. E ainda seguir tão prestigiada.

* –a tabela é componente de artigo escrito pela presidente
da Fundação Casa (Berenice Maria Gianella) para o livro “Quase Noventa Anos,
homenagem a Ranulfo de Melo Freire”, recentemente lançado pela Editora Saraiva.

 
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