Leitores indignados querem soluções para evitar descarte gigantesco de livros
Em resposta ao artigo publicado na coluna do Terra Magazine, e reproduzido aqui no Blog Sem Juízo (Descarte de livros é crueldade em país carente de leituras), recebi vários e-mails de leitores e responsáveis por bibliotecas indignados com a morte anunciada de tantos livros por excessos não comercializados.
Da crítica ao alto custo dos títulos nas livrarias a propostas de doação a instituições carentes, os leitores assumem a intenção de salvar os livros e fazê-los circular, para evitar o descarte. Ler é tão bom, mas para muitos ainda inacessível, que fica difícil de acreditar que o mercado desove tantos livros ao mar sem que campanhas sejam feitas para estimular e facilitar a leitura.
Reproduzo abaixo uma pequena mostra dos e-mails recebidos, que se somam, em sua maioria, ao espírito dos comentários formulados no próprio link do Terra Magazine, entre a indignação e a resistência, o que não deixa de ser, ao menos, um sinal de esperança.
“Em nossa instituição cuidamos de crianças carentes, dando oportunidades para que cresçam como cidadãos. Li a reportagem no site Terra e fiquei indignado, possuímos uma biblioteca e somos carentes de livros infantis, fizemos recentemente uma campanha de doações de livros infantis e tivemos um bom retorno, porém aquém daquele que necessitamos, visto que cuidamos de mais de 165 crianças. Sabemos a importância da leitura nessa fase, que além de ajudar a escrever corretamente, ajuda também na fala, e o mais importante, transporta os leitores para lugares inimagináveis, lugares que muitas vezes só poderão visualizar, mesmo que em pensamento, só pelo livro.”
“Li seu relato no site do Terra sobre o descarte de livros por grandes editoras, realmente é um fato lamentável em uma sociedade carente de cultura, conhecimento, generosidade, bons exemplos este com certeza não é um deles. Quero relatar que sou diretor de organização da sociedade civil de interesse público, e queria ver se temos como solicitar a doação deste livros que serão descartados ou parte deles para a criação de uma biblioteca para população carente da zona norte de São Paulo, visto que temos projetos ligados à cultura, esporte e lazer e principalmente para transformação de pessoas sem parâmetros e sem perspectivas em cidadãos de fato.”
“Fico horrorizado quando leio uma notícia destas, somos um país de terceiro mundo porque a nossa educação é falha e diversos são os motivos que comecem talvez, pela preparação do educador, falta de incentivo da leitura no lar, remuneração baixíssima do educador e por aí vai poderia enumerar outros tantos motivos. … Seria difícil para estas editoras doarem a preço irrisório os livros que irão destruir?”
“Deveríamos lutar para que o desencalhe fosse feito através de feiras de livros com preços acessíveis ao grande público. Não seria justo o Estado intervir, adquirindo os livros a R$1,00 e vendendo-os em feiras de livros pelo mesmo preço?”
“Quero saber se tenho como papel de cidadão e amante perpétuo da literatura e livros em geral de adquirir alguns exemplos.”
“Que as editoras publiquem a intenção da doação e quem os quiser arque com o transporte dos mesmos. Acredito que vai aparecer um mundaréu de pessoas que saberão dar melhor destino aos livros. … Creio que brasileiros não leem porque não podem comprar. Vejo nesse descabimento um verdadeiro holocausto de livros e um planejamento mal feito desde o excesso de produção até o preço exorbitante.”
“Como poderíamos fazer para conseguirmos a doação dessas obras para bibliotecas públicas municipais ou bibliotecas de associações comunitárias? Gostaria de saber o nome da livraria para entrarmos em contato para ver da viabilidade da doação.”
“Por favor, gostaria de saber qual a editora que está descartando esses livros para poder entrar em contato com ela e ver se consigo doações.”
Entre as indignações e súplicas, um leitor de Florianópolis escreve indicando um interessante projeto, “Floripa Letrada”, de distribuição de livros em pontos de ônibus. Em suas palavras:
“a prefeitura colocou em alguns terminais de ônibus armários em que estão livros doados. Quem quiser passar e pegar o livro… levar consigo e ler…A própria prefeitura fez doação e promove recolhimento de livros e coloca ali nos armários que são bonitos (coloridos) e com frases e dizeres de incentivar leituras. Também pessoas e demais indivíduos deixam livros que não querem mais para ouros lerem e torna-se algo bastante circular…”
O que mostra que boas experiências de “bookcrossing” também são possíveis.
Seriam capazes de resolver o problema dos descartes? As fotos dos depósitos das editoras, produzidas pela reportagem do Sabático (e que não saíram na versão impressa do texto) são impressionantes pelo volume.
(Foto extraída do post: “Ainda sobre a superprodução de livros no Brasil“)
O leitor pode conferir as demais, bem ainda outras informações, no Blog da Raquel Cozer (A Biblioteca de Raquel).
Pela quantidade de comentários, e-mails, comentários, retuítes, parece que o assunto interessa e mobiliza uma vasta gama de pessoas. Que a indignação produza soluções. O Blog Sem Juízo continua atento e disponível para indicar sugestões de compartilhamento e outras propostas.
Afinal, seja como leitor, seja como autor, continuo confiando que salvar os livros é salvar um pouco de nós mesmos.
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