….’por trás da notícia’: uma aula de reportagem policial….

 

 

Edson Flosi descreve e comenta o processo de criação de
grandes reportagens

 

 

 

Descobrir histórias e contar histórias.

Contra a crise do jornalismo, uma receita simples de
jornalismo.

Edson Flosi, falecido no último dia 5 de junho, deixou um
legado de seus mais de trinta anos de profissão, dedicados quase todos à
reportagem policial.

Por trás da notícia
(Summus Editorial, 2012) entremeia o making-of de suas principais reportagens
com dicas sucintas e diretas a jornalistas que iniciam ou perseveram numa
carreira marcada por graves crises.

Com ar saudoso, o autor lastima o fim das grandes
reportagens, vítimas do pragmatismo empresarial,
a modernização e a digitalização fria dos arquivos e o quase abandono do
contato pessoal entre jornalista e os personagens da história que quer contar.
Em relação a esse distanciamento oferece a dica mais saborosa e analógica da obra: “telefone é apenas
para marcar encontros”.

Nas reportagens que se sucedem entre Jornal da Tarde e
Folha de S. Paulo, Flosi transborda emoção a partir dos fatos, não dos
adjetivos, buscando cumprir seu ofício sem apelações: contar de forma
interessante a história que apurou.

“A imprensa exerce fascínio sobre o ser humano, porque na
verdade, todo ser humano é um repórter; quando alguém conta um caso, está executando
naturalmente o papel do jornalista”.

As histórias se sucedem, tanto no jornalismo
investigativo, quanto na cobertura do fato corriqueiro, onde descortina interesse
em histórias aparentemente triviais, que estão ao alcance do profissional que se
dê ao trabalho de procurá-las.

A proximidade e o respeito às fontes, o trato ético com o
entrevistado, a busca do traço humano na desgraça ou na redenção, sem resvalar
no sensacionalismo rasteiro.

Assim desfilam, com a mesma naturalidade, o relato de uma
família assassinada a sangue-frio, o pai que vira lobo do mar para salvar o
filho na represa, o insucesso da investigação policial que deixa sem suspeitos o
crime grave ou a informação de bastidor que se transforma em um grande furo.

De tudo um pouco nesse livro que consagra o cotidiano em
história, em situações que parecem ter pairado no tempo.

Hoje, encravado pela internet, esgrimido pelas grandes
corporações, imprensado pelo excesso de tutela patronal, o repórter de jornal
tem de vencer obstáculos talvez até maiores do que os da época de Flosi, parte dela durante
a ditadura.

A censura privada, o esfacelamento do pluralismo, a
editorialização excessiva que reduz o jornal a uma opinião que se publica,
caminham lado a lado com as reestruturações
empresariais
, que esfacelam redações, fecham publicações e provocam surtos periódicos de demissões
coletivas.

São realidades que escapam à pena nostálgica de Flosi,
que abandonou o jornalismo pela advocacia criminal nos anos 90. O que o faz
apresentar o livro com uma confissão mescla de melancolia e esperança: “Não
tomei parte no jornalismo empresarial. Minha carreira acabou antes. Mas, sonhador
irreverente, acredito na volta da grande reportagem”.

Quiçá tenha razão.  
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