Papel de MP no processo penal é acusatório; não pode se confundir com julgador
A decisão que segue foi prolatada pelo juiz gaúcho Mauro Caum e atende a pedido administrativo formulado pela Defensoria Pública (aqui noticiado) para alteração do local do representante do Ministério Público na sala de audiências. Para o juiz, separação de papéis entre acusador e julgador não admite que o espaço cênico permita confusão. Lugar do MP é à direita, mas não ao lado do juiz, e a Defensoria Pública tem direito a sentar-se no mesmo plano do MP*.
COMARCA DE PORTO ALEGRE
1ª VARA CRIMINAL E JECRIME DO FORO REGIONAL RESTINGA
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Procedimento administrativo n°. 02/2011
Requerente: Defensoria Pública
1. RELATÓRIO.
A DEFENSORIA PÚBLICA do Estado do Rio Grande do
Sul, por intermédio da Defensora Pública com atribuição para atuar perante esta Vara Criminal, Dra. Cleusa Maria Ribeiro Trevisan, requereu,administrativamente, o remanejo dos móveis da sala de audiências, a fim de que o assento destinado ao órgão do Ministério Público seja posicionado no mesmo plano do da defesa. Nesse sentido, argumentou que o disposto no art. 4°, § 7°, da Lei Complementar 80/94, garante aos me mbros da Defensoria Pública sentar no mesmo plano dos do Parquet. Enfatizou que o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil estabelece não haver hierarquia entre
advogados, membros do MP e Magistrados. Afirmou que esse reposicionamento não importa violação da garantia funcional dos órgãos do MP de sentar “à direita” do Juiz, também reproduzida em todos os Códigos de Organização Judiciária deste Estado, pois não significa “do lado”. Asseverou, ainda, que a mudança da disposição cênica também atende ao princípio constitucional da isonomia e é congruente com o sistema acusatório. Juntou documentos.
Sucinto relatório.
Passo a fundamentar.
2. FUNDAMENTAÇÃO.
A recente onda de reformas do já vetusto Código de Processo Penal, dentre tantas alterações – algumas esperadas e proveitosas, outras de feitio e resultado um tanto questionável –, com inspiração no novel Princípio Constitucional da razoável duração do processo (expressamente acrescentado à Carta Magna pela Emenda Constitucional n°. 45/2004 ) e buscando mais ampla incidência do Princípio da Oralidade (e todos os seus desdobramentos) no âmbito criminal, concentrou inúmeros atos processuais em uma única e ininterrupta (em tese) solenidade, denominada de “audiência de instrução e julgamento”.
Independentemente de ter sido boa ou ruim a modificação, de – na prática – ser possível ou não levar um (rectius: a maioria de um) procedimento a seus ulteriores termos em um só momento, uma coisa parece certa: houve relevante aumento da importância da audiência para o deslinde da causa penal.
Esse rearranjo, que nada mais é do que um ponto na contínua e vagarosa mudança do desenho, paradigma, processual-penal pátrio (que se acentuou há quase vinte e dois anos, com a promulgação da vigente Constituição), proporciona bem-vinda ‘janela’ a repensar práticas e costumes de tempos imemoriais que, até ora, perpetuam-se.
Há os que dizem que foi este o modelo adotado; outros ressaltam que não houve, de modo expresso, acolhimento desta sorte. Seja como for, o sistema processual penal acusatório – e não suas alternativas: o inquisitivo e o misto – é o que melhor se conforma com o arcabouço axiológiconormativo da Constituição Federal.
Assim, ao atribuir ao Parquet, privativamente, a ação penal pública (art. 129, inciso I), a Lei Fundamental, parece, quis estabelecer a imprescindibilidade de sua atuação para o processo e, consequentemente, evitar o embricamento das funções dos sujeitos processuais.
Com efeito, no processo penal, deve haver as figuras do ‘acusador’ e do ‘julgador'; e elas devem ser bem delimitadas, separadas, de modo que um com o outro não se confunda.
Pois bem.
A atual situação cênica dos móveis da sala de audiência, por estar o assento destinado ao órgão do MP imediatamente do lado do julgador, vai de encontro a essa necessária diferenciação.
Com efeito, ‘visualmente’, isso transmite a um observador – que ignora os regramentos positivos e consuetudinários – a ‘impressão’ de, senão identidade, de proximidade das atribuições.
Tal ‘ilação’ é, certamente, facilitada pela circunstância de o servidor auxiliar-escrevente do Magistrado sentar em posição equivalente (imediatamente do lado esquerdo), e os Advogados e Defensores Públicos (assistentes da acusação ao lado direito; defensores, ao lado esquerdo) não, ficando, além de mais afastados, perpendicularmente ao Juiz.
Isso sem contar o fato de que, inexplicavelmente (melhor seria dizer indevidamente) que a poltrona destinada ao órgão do Parquet é, de praxe (inclusive, nesta Vara), muito mais “luxuosa” que a destinada aos Advogados e Defensores Públicos.
Nada justifica que assim seja.
Embora falar em ‘paridade de armas’ no âmbito do processo penal não seja de todo pacífico (afinal, beneficia-se o acusado de mais ‘armas’, como o Princípio do Favor Rei; a possibilidade de opor embargos infringentes e de nulidades em grau recursal e ajuizar revisão criminal etc.), há, aí, um tratamento não isonômico (desigualdade material) difícil de ser justificado.
Além disso, essa conjectura “geográfica” pode – não se deve descartar – até mesmo influenciar no deslinde dos processos. Não por alguma ascendência formal sobre a defesa: nesse ponto, a igualdade é inatacável. E sim, na colheita da prova.
Isso porque a confusão ‘visual’ entre Juiz e Promotor, efeito da disposição dos assentos, tende, sim, não se negue e nem fantasie, a interferir no ânimo das pessoas que prestam declarações, sobretudo no das mais simples e humildes, que, infelizmente, são a maioria absoluta das que se fazem presentes nesta Vara Criminal, cuja competência territorial abrange uma das áreas mais pobres da Cidade.
Posto isso, há necessidade de readequação do mobiliário da sala de audiências, tal como requerido pela Defensoria Pública.
É verdade, tanto na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (1), como na Lei Orgânica do Ministério Público do Rio Grande do Sul (2)consta ser prerrogativa do membro do Parquet sentar-se “à direita” do julgador.
Ocorre, porém, que isso é matéria de organização judiciária; e, como tal (nos termos da Constituição da República, art. 125, §1°), de competência legislativa Estadual e de iniciativa do Tribunal de Justiça.
Taxativamente: as disposições citadas são inconstitucionais (na medida em que a
CF reservou ao Estado legislar sobre organização Judiciária, e, no ponto, no Estado do Rio Grande do Sul há lei, o COJE, prevendo a forma de organização da sala de audiências).
Isso quer dizer, em última análise, que o que vale mesmo sobre a matéria é o COJE – Código de Organização Judiciária –, que, na sua redação atual (3) (tal qual nas versões anteriores, de 1950(4) e de 1966(5), não prevê tratamento diferenciado aos membros do Ministério Público: só dispõe que eles, o autor da ação e seu patrono – sic, genericamente – sentam “à direita” do Juiz.
Ainda que assim não fosse – ou seja, que constitucionais fossem as disposições das leis orgânicas antes mencionadas –, persistiria a indesejável inferência.
Ora, sentar “à direita” do Juiz não significa, em hipótese alguma, tomar assento “imediatamente ao lado direito”.
Interpretar deste jeito é ir muito além dos limites do texto legal, afirmando o que
a Lei não diz, nem sugere, nem autoriza.
Se fosse o caso, constaria “imediatamente à direita”, ou “imediatamente ao lado”, como, aliás, está consignado na exceção admitida na Lei Orgânica do MP da União (Lei Complementar 75/93, art. 18, inciso I, alínea “a”) –com efeito, a Lei não contém palavras inúteis. E, aliás, essa lei mesmo,também parece ferir de morte a constitucionalidade, na medida em que viola a disposição constitucional que ao Poder Judiciário Federal, no âmbito federal, e ao Poder Judiciário dos Estados cabe a iniciativa de leis que tratem da organização judiciária, como é o caso da organização das salas e sessões de julgamento.
Por outro prisma, o da ponderação das funções do Ministério Público, chega-se à idêntica ilação.
De fato, nos processos (cíveis) versando sobre interesses de incapazes, causas sobre o estado das pessoas etc., em que o Parquet nada pede, nem tem nada contra si pedido, intervindo como custos legis, é até compreensível que se situe no mesmo plano ao lado do Juiz: estaria ali como desinteressado na lide posta.
O mesmo, todavia, não ocorre na ação penal (pública).
Nela, é o órgão MP que decide pela sua proposição ou não (forma sua opinio
delicti); é quem tem o ônus de provar seus termos; isso sem falar nos casos em
que investiga pessoalmente determinada notitia criminis.
Seu papel, aí então, não é de parecerista, custos legis, mas, sim, autêntica e primordialmente, de acusador público (6).
O que foge disso é acidental, secundário.
Por isso, não lhe é exigido – nem, acrescento, seria exigível –imparcialidade, a não ser, nos termos legais, a ausência de ‘impedimento’ e de ‘suspeição’ do respectivo órgão.
Afinal, como é possível fazê-lo (demandá-la) daquele sujeito que tem que previamente se convencer da existência de um crime e de que não está a acusar pessoa ‘inocente'; daquele que tem contato direto com a Polícia (cujo controle externo exerce), de quem cobra a produção de provas contundentes e inequívocas; daquele que recebe, mais diretamente, influxos sociais clamando por segurança pública, muitas vezes com contato direto com as vítimas e com todas as aflições que lhes acometem; daquele que tem de laborar no sentido de provar os pedidos que fez, sob pena de, ao fim, tê-los julgado improcedentes.
Em suma: o fardo de acusar é pesado demais para a pessoa. Por mais bem intencionada, equilibrada e ‘distante’ que se consiga manter dos casos, terá, em maior ou menor medida, suas percepções obnubiladas por essa gama de fatores; será parcial. Isto caracteriza quem é parte.
Isso, friso, não é demérito; não acarreta perda de prestígio ou credibilidade.
Pelo contrário, é importante – ou melhor: essencial – a presença de um acusador público comprometido com os casos ajuizados ao pleno contraditório, à dialética processual. É isso que a sociedade espera.
Nesse panorama, não tem sentido o órgão do MP que atua no âmbito criminal – diga-se mais uma vez: como acusador público – ter assento imediatamente do lado do Juiz; não há porquê colocar-se como ‘imparcial’, quando, de fato, não é.
A corroborar esse entendimento, reporto-me a precedente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que bem se amolda ao tema:
“JURI. ASSENTO DO M.P. ALTERACÃO. PRINCÍPIO
DA ISONOMIA. PREVALÊNCIA DA MAIORIA. Mandado de
segurança. Assento do M.P. como parte autora. Denegação do
‘writ’. A alteração da disposição da sala de audiências em Tribunal
do Júri com remoção do assento do Ministério Público para posicionálo
no mesmo patamar do assento da Defesa, não importa em violação
da prerrogativa funcional traduzida pelo posicionamento à direita do
seu Presidente à vista da disposição do art. 41, XI da Lei Federal
8625/93 (L.O.M.P.) e, ‘ipso facto’, do art. 82, X da Lei Complementar
Estadual 106/03, mas, ao contrario, atende à norma constitucional
que assegura às partes, em processo judicial penal, tratamento
isonômico. A plenitude e a efetividade do ‘equilíbrio de armas’ no
contraditório justificam a necessidade de o Juiz envidar todos os
meios necessários para evitar que a disparidade de posições cênicas
possa influir no êxito de uma demanda penal, condicionando-o a uma
distribuição desigual de forcas, pois a quem acusa e a quem se
defende em Juízo, notadamente no Tribunal do Júri, devem ser
asseguradas às mesmas possibilidades de sucesso na obtenção da
tutela de suas razões. Inexistência de direito liquido e certo a ser
amparado pela via mandamental. Precedentes citados: STJ – HC
18166/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, julgado em 19/02/2002. STF
– RMS 21884/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/05/1994”
(TJRJ, 7.ª Câmara Criminal, Rel. Des. EDUARDO MAYR, Mandado de
Segurança 35/2004).
Somando-se a tudo isso, há, ainda, um outro dado a ser relevado: gozam os Defensores Públicos, nos termos da Lei Complementar 80/94, art. 4°, §7° (7), da garantia de sentar no mesmo plano do Ministério Público.
Pois bem.
Para ser efetivada, tal norma, necessariamente, impõe o remanejo do lugar costumeiramente destinado ao Parquet, pois a alternativa (os representantes de ambas as instituições ficarem no plano sentarem-se horizontalmente em relação ao Julgador) é impossível.
Isso porque o Juiz deve, por razões de ordem administrativo-prática, estar próximo do escrivão, seu auxiliar, que, de praxe, senta logo à sua esquerda; e, de outro lado, à sua direita, o estenotipista, que deve estar posicionado de modo a, além de escutar, poder ver os movimentos labiais das pessoas que perguntam e expõem em audiência, a para melhor desempenhar seu mister (registrar os acontecimentos).
Ademais disso, assim como não é razoável estabelecer diferenciação entre o Ministério Público e os demais atores parciais (assistentes da acusação e defensores), no que diz como os assentos na sala de audiências, tampouco é fazê-lo entre Defensores Públicos e Advogados.
Assim, seja pela previsão da lei local (COJE), em vigor e recepcionado, no ponto, pela CF; seja porque a LOMIN ou outro estatuto do MP não preveja a prerrogativa de sentar “ao lado” do Juiz (como expressamente inclusa no caso que quis ressalvar); seja porque, por necessidade e conveniência da administração da Justiça (organização dos auxiliares diretos do Juiz), deve haver a adequação pretendida.
3. DISPOSITIVO
Pelo exposto, ACOLHO o requerimento administrativo formulado pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul e DETERMINO a alteração do mobiliário da sala de audiências, de modo que seja removido o assento ora destinado ao órgão do Ministério Público, que deverá, quando comparecer às solenidades aprazadas pelo Juízo, tomar lugar nos remanescentes que se situam “à direita” (e não ao lado) do Julgador.
Intimem-se o órgão do Ministério Público e da Defensoria Pública que atualmente têm atribuição para oficiar perante esta Vara Criminal –autorizado extração livres de cópias.
Remetam-se cópias do pedido inicial e desta decisão: 1)ao Presidente do Tribunal de Justiça; 2) ao Corregedor-Geral de Justiça; 3) ao Presidente da Comissão de Direitos Humanos do TJ; 4) ao Presidente da OAB/RS; 5) ao Diretor de Valorização Profissional da OAB/RS; 6) ao Presidente da AJURIS – Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul; e 7) ao Presidente da AMB – Associação dos Magistrados do Brasil, em Brasília.
E encaminhe-se cópia integral do expediente para o Conselho Nacional de Justiça – CNJ.
Procedam-se às diligências necessárias à reorganização dos móveis, inclusive com ciência ao Estenotipista.
Porto Alegre, 19 de julho de 2011.
MAURO CAUM GONÇALVES
Juiz de Direito Substituto
1ª Vara Criminal e JECrim
Foro Regional da Restinga
1 Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 8.625/93): “Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: […] Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica”.
2 Lei Estadual 7.669/82: “Art. 35 – Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de suas funções: […] II – tomar assento à direita dos juízes singulares ou do Presidente do Tribunal e dos órgãos fracionários do Tribunal”.
3 Lei Estadual 7.356/80: “Durante as audiências, o agente do Ministério Público sentará à direita do Juiz, o mesmo fazendo o patrono do autor e este; à esquerda, tomarão assento o Escrivão, o patrono do réu e este, ficando a testemunha à frente do Juiz”.
4 Lei 1008/1950: “Art. 255 – Ao lado direito da sede do juiz assentar-se-á o representante do Ministério Público, quando tiver de oficiar em audiência ou exercer suas funções perante os tribunais”.
5 Lei 5256/66: “Art. 248 – Durante as audiências, sentará à direita do juiz o órgão do Ministério Público e o advogado do autor, e à esquerda, após o escrivão, o réu, ao lado dos patronos terão assento as partes, ficando a testemunha à frente do juiz”.
6 Em sentido semelhante, mais especificamente, na linha de que o MP no processo penal é parte, trago à baila julgado do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: “HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. INVERSÃO NA ORDEM
DAS FALAS EM PLENÁRIO. PREJUÍZO CARACTERIZADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. As
atribuições de custos legis têm-nas sempre o Ministério Público, qualquer que seja a
natureza da função que esteja a exercer – enquanto lhe decorre da própria natureza da
instituição, cumulando-as com aqueloutras de parte no processo penal da ação pública,
incindivelmente por razões evidentes. 2. O Ministério Público, nos processos de ação
penal pública, que lhe incumbe promover, privativamente, como função institucional
(Constituição da República, artigo 129, inciso I), é sempre parte, mesmo no grau
recursal, em que ocorre o fenômeno da sucessão de órgãos na posição do autor na
relação processual. 3. Viola os princípios constitucionais do contraditório e do devido processo legal, com iniludíveis reflexos na defesa do paciente, a inversão das falas das partes em sessão de julgamento de recursos (Precedentes). 4. Ordem concedida para anular o julgamento de recurso em sentido estrito, determinando-se que outro se proceda. (HC 18166/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2002, DJ 24/02/2003, p. 308).
7 “Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: […] § 7º Aos membros da Defensoria Pública é garantido sentar-se no mesmo plano do Ministério Público”.
*A decisão foi cassada por liminar em Mandado de Segurança, impetrado pelo Ministério Público (aqui noticiado), posteriormente mantido por acórdão ainda não publicado
Correto o pedido da Defensoria Pública e correta a decisão do Ministério Público.
A estrutura do Poder Judiciário se vale, como de resto quase todo o tecido social, de símbolos.
Infelizmente, nas faculdades de Direito, ou quiçá, nos cursos de pós-graduação não se estuda a semiótica, destinada justamente a tratar da impressão que cada símbolo da cena causa àquele que a vê.
O Juiz sentar-se acima das partes é um recurso de semiótica. Muitas vezes criticado como mera vaidade. Não creio que seja.
E creio que todas essas regras merecessem a avaliação de um cientista que transitasse entre a semiótica e o direito.
Mesmo a Polícia poderia utilizar-se de tais recursos. Transmitir autoridade é útil ao Poder Judiciário. E muitas vezes é desnecessário um aparato de segurança gigantesco. Basta usar o conhecimento.
Enquanto o Gurgel continuar sentado do lado do Ministro Peluso essas modificações de acento dificilmente ganhara difusão por todo país!
Bom dia Meritíssimo.
Li hoje a sua matéria "Os indignados ainda vão botar o planeta de cabeça para baixo" e não contive a vontade de conhecê-lo melhor: não é todo dia que nos deparamos com autoridades com pensamentos tão brilhantes.
Estou tentando escrever o meu primeiro livro intitulado "Covarde, você é covarde: – uma apologia ao amor, a fé, a coragem e a honra" – inspirado na Teologia da Libertação, a questão da sustentabilidade… Ele casa-se perfeitamente com os pensamentos expostos em seu blog.
Gostaria de obter o seu e-mail para troca de maiores informações.
Não tenho o Twiter ainda, são muitas tecnologias.
Um abraço, o nosso respeito e admiração.
As pessoas estão confundindo mesmo plano com mesmo lugar. O que não pode é existir um tablado que eleve o assento do MP e do Juiz. Devem estar no mesmo nível, não no mesmo lugar.
Existe uma lei federal que afirma onde a cadeira do MP deve estar. Um Juiz que tira o lugar do MP, ofende a própria lei que ele deveria defender. Claro que, num processo judicial, poderia ele declarar, incidentalmente, declarar a inconstitucionalidade do dispositivo, mas desconheço essa possibilidade em processo administrativo.
O Defensor (público ou advogado) deve sentar ao lado de seu cliente, pois só assim pode manter comunicação com o mesmo, sendo este, inclusive, um importante aspecto da defesa.
Essa questão de quem manda ou desmanda só serve para aqueles que têm vaidade. Fuiz aprovado em diversos concursos, para diversos cargos, inclusive Magistrado. Escolhi o MP pq sempre tive alma de Promotor.
Eu me pergunto se é mesmo o Juiz quem tem SEMPRE a última palavra… especialmente no crime. Juiz só pode se mexer se for provocado. Ora, se o MP promove o arquivamento de inquérito, o magistrado não tem poder para impedir. O máximo que pode fazer é mandar o caso para o PGJ. Ou seja, no final, a ultima palavra é do MP.
Essa é uma questão de pura vaidade. Acho que advogados, promotores e juizes possuem funções igualmente relavantes.
Nunca me preocupei onde sento na sala de audiências. Costumo procurar um local onde fique mais confortável. Se a mesa é pequena, não vou ficar ali todo apertado do lado do juiz. Sento onde for mais confortável para mim. Na esquerda, na direita, na outra ponta…
Mas, objetivamente, existe uma lei federal que, até onde sei, não foi declarada, por controle abstrato ou contreto, inconstitucional, prevendo onde o MP deve se sentar.
Quanto à lei dos Defensores Publicos, figuras de suma importancia para o Judiciário e para o cidadão, podem conferir… devem sentar-se no mesmo "plano", não no mesmo lugar. Plano, nível… altura do assento… isso pq, antigamente, existiam tablados que elevavam os assentos do MP e do Juiz, o que, realmente, passava uma visão de hierarquia. Mas, plano não é mesmo lugar, do lado do MP.
Respeito muito os advogados e defensores públicos, mas acho que, com todo respeito, estão ampliando a interpretação da lei de forma equivocada.
Existem, inclusive, outras argumentos que poderia lançar aqui para justificar a posição do MP ao lado do Juiz, mas acho que não devo me alongar.
O que me deixe triste é que advogados e defensores dizem que o MP é parte, que faz só a acusação e por ai vai… mas no fundo, sabemos todos que isso não é verdade… tenho certeza que cada advogado, cada defensor público já teve contato com algum promotor que pediu absolvição, que pediu fosse nomeador defensor ao réu, apresentou nulidade do feito por desrespeito ao direito do réu… isso realmente é conduta de "parte"? Favorecer seu oponente? Gostaria que o assunto fosse discutido com responsabilidade, com franqueza, sem paixões.
Breve relato sobre o projeto de Lei 1069/11 .
“Os magistrados não governam. O que eles fazem é evitar o desgoverno, quando para tanto provocados”
Ministro Carlos Ayres Britto
O Projeto de Lei n. Lei 1069/11, quer incluir na Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal) artigo que prescreve pena de reclusão de 3 a 5 anos e multa para juízes e integrantes do Ministério Público que deixarem condenados na prisão além do tempo devido.
A justificativa para o projeto é de que 10% ou seja, aproximadamente 420 mil presos, apesar de terem direito aos benefícios de progressão de regime, detração, remição, livramento condicional e inclusive a liberdade continuam presos ou sem receber estes direitos. Assim, o projeto quer pressionar os membros do Judiciário e do Ministério Público a atentarem para estes indivíduos.
Sobre as prisões no Brasil, oportuno a lição do Procurador da República Luís Wanderley Gazoto em sua tese de Doutoramento intitulada Populismo Penal ao salientar que:
Uma preocupação central que tenho, na compreensão e atuação no sistema penal brasileiro, é o funcionalismo penal, que, degenerado em populismo, afastou, do direito penal, a Ciência, levando-nos a uma espiral punitiva sem fim, pela qual, em nove anos (2000-2009), o número de presos, condenados e provisórios, dobrou, passando de 232.755 para 469.807. Outra preocupação é a ineficiência do processo penal. A confluência desses dois fatores, gera, concomitante e paradoxalmente, rigorismo (aos pobres) e impunidade (aos ricos).
Entende este autor, que referido projeto tem amplo respaldo Constitucional, nos termos do art. 1º, III, (Dignidade da pessoa humana), art. 5º Caput, (Igualdade, Liberdade), e § XLVI (Individualização da Pena), LXXIII (razoável duração do processo), todos da Constituição Federal da República do Brasil.
Portanto, o citado projeto de Lei ostenta máximo grau de Constitucionalidade, que se aprovado respaldará a norma jurídica contra eventual Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelas as Associações de Classe.
O Ministério Público deveria atuar em nome da sociedade como Custos Legis (Fiscal da Lei), porém a realidade prática demonstra o contrário.
Nesse sentido Guilherme de Souza Nucci ao comentar sobre a importância do Habeas Corpus em entrevista no Colendo Superior Tribunal de Justiç a:
“O habeas corpus tem, sim, contraditório por parte do MP. Há sempre parecer do MP, que, invariavelmente, atua em nome da sociedade. Diz-se que o faz como fiscal da lei, porém a realidade demonstra o contrário”, avalia o magistrado, com base em pesquisa desenvolvida por si mesmo”
Esse contraditório não ocorre apenas em casos de Habeas Corpus, ocorre também na Execução Penal, que por vezes o Ministério Público atua como ente protelador de direitos, ao invés de garantidor.
O Parquet (Assoalho em Francês – sinônimo de Ministério Público, ao qual os Juízes e Promotores ficam um ao lado do outro) Dominus Lites (autor da ação, dono da lide ) por vezes esquecem sua função Constitucional de Custos Legis (Fiscal da Lei), fato este que costumo chamar de desvirtuamento institucional.
Muitos Juízes atualmente para justificar as prisões no processo penal e também na Execução Penal, por via de despachos prontos e sem a mínima fundamentação acolhem parecer do Ministério Público, gerando mitigação de direitos.
A prisão seja no Processo Penal, seja na Execução deve ser fundamentada em elementos subjacentes e não em meros pareceres muitas das vezes protelatórios.
Com isso, temos que a Defesa, órgão tão importante, função essencial à Justiça pela Constituição Federal, muitas vezes no Processo Penal e na Execução fica a ver navios…
Conclui-se, que referido projeto de Lei é de suma importância ao ordenamento processual penal e executivo penal, pois o rigor da Lei deve ser para todos que a descumprem e violam direitos.