….visita de blogueira é oportunidade para discutir democracia na comunicação….

Pensamento único não é privilégio de ditadura

Dentre as várias contradições da visita da
blogueira cubana Yoani Sanches ao Brasil, uma delas foi pouco explorada: o
frenético entusiasmo da grande mídia, quase sempre refratária à importância dos
comunicadores independentes.

É certo que Yoani não é blogueira no Brasil, o que facilita, e muito, o apego
da imprensa –a cubana foi tratada como líder contra a tirania, ainda que sua
fama seja na ilha inversamente proporcional ao prestígio amealhado fora
dela.

Muito já se disse sobre o inalienável direito dela em se expressar –ainda que
sob apupos dos seus contrários. Mas pouco se fala sobre a importância do
blogueiro, e não apenas na ilha de Fidel.

Se é certo que a liberdade de expressão não é propriamente uma cláusula
pétrea no regime cubano, também não se pode dizer que nestas plagas seja um
instrumento sem qualquer crítica.

A liberdade de expressão tem o pluralismo como sua razão de existir. É
importante permitir a todos que falem, justamente para evitar regimes de voz
única.

Mas a excessiva concentração da imprensa acaba por produzir, por contra
própria, sem ditadores ou atos institucionais, uma espécie de censura às avessas
–vozes que podem falar, mas raramente são ouvidas.

Não são poucos blogueiros que incomodam, vários já foram vítimas de agressão
no país e muitos de censura, inclusive a pedido da própria imprensa. Apesar, ou
por causa disso, continuam imprescindíveis.

O pensamento único não é privilégio de ditaduras.

Os processos econômicos que convergiram a grandes fusões e a falta de limites
a essas incorporações têm produzido discursos de massa que encontram pouco ou
quase nenhuma resistência.

E pouco importa de que lado do balcão a mídia concentrada se estabeleça. Ser
“partidária de oposição” é tão ruim quanto ser instrumento do governo. Tanto uma
como outra podem perverter a livre comunicação.

O importante, para quem aposta na democracia, é nunca permitir concentração
tal que possa produzir influência política para além do equilíbrio dos partidos
–mais ou menos o que no direito eleitoral se traduz em abuso do poder
econômico.

A tarefa de todos aqueles que defendem a democracia é fazer com que não
existam, incrustados no Estado ou nas grandes corporações, forças capazes de
condicionar por si só a vontade popular.

Se regras que impedem a concentração de mercado são plenamente aceitas nos
regimes capitalistas, não há porque o mesmo raciocínio não ser aplicado a órgãos
de imprensa –que vendem um produto tão mais sensível que uma lâmina de barbear
ou um chocolate

A influência da mídia tem-se revelado há muito tempo impactante nas contendas
eleitorais, na atuação do governo, que poucas vezes se arrisca a contrariá-la, e
de parlamentares que, escolhidos para entrevistas ou programas, tornam-se muito
mais populares e, por esta razão, elegíveis.

O populismo legiferante, por exemplo, é uma marca típica dessa ação a reboque
da mídia –e o direito penal é o que mais tem sofrido com ela. O julgamento do
mensalão colocou em pauta até mesmo a possibilidade de influência no próprio
Poder Judiciário.

A visita da blogueira deve, assim, ser saudada como uma forma de retomar a
discussão sobre a democratização dos meios de comunicação. Seja por intermédio
de marcos regulatórios que eliminem abusos na concentração de veículos, seja
pelo fortalecimento da própria mídia independente, para que a multiplicidade das
opiniões possa fazer jus ao pluralismo democrático.

Para tanto, será necessário que os poderes enfrentem a questão, mesmo à
revelia da imprensa, e ao governo, especificamente, que amplie a quantidade, a
qualidade e a distribuição dos serviços de banda larga, de modo que parte
significativa da população não fique alheia às novas gerações de comunicadores
e, por consequência, da democracia.

Um comentário sobre ….visita de blogueira é oportunidade para discutir democracia na comunicação….

  1. Claudia Pires 27 de fevereiro de 2013 - 14:09 #

    Oi Marcelo, gosto mto dos teus comentários, concordo plenamente c teu posicionamento, a reflexao nao tem mão única, mto pelo contrário,é a partir do debate de idéias que temos referencial p tecermos o nosso modo de pensar.
    "A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos" (Hannah Arendt)