País não pode conviver com filhos que até hoje não sabem o destino de seus pais, porque aqueles que os sequestraram esconderam os corpos de suas vítimas
Militares reformados causaram alvoroço na semana que passou ao lançar manifesto em que afrontam a presidenta Dilma Rousseff.
Ressentidos e receosos, reagem a declarações de ministras pelo estabelecimento da Comissão da Verdade e o esclarecimento dos abusos e violências dos anos de ditadura.
Mais do que a indignação dos democratas ou as punições das chefias, o que a farda aposentada merece, neste episódio, é, sobretudo, o desprezo.
É verdade que a saudade do tempo em que tinham voz de comando ainda vitamina muitos discursos de vivandeiras dos quartéis. Mas hoje, militares são apenas servidores, não autoridades.
A política não depende mais de suas ordens do dia e a nostalgia da repressão é uma história que se repete como farsa.
A força retórica da reação do governo representa quase nada, todavia. Por que é justamente a tibieza com o trato dos crimes do passado que tem permitido que os reformados aumentem constantemente seu tom de voz.
A demora na instalação da Comissão da Verdade e as diversas concessões na sua formatação estimularam os militares, que permanecem se sentindo intocáveis, como se ainda devêssemos lhes pedir licença para investigar ou punir.
Os demais países do continente, que também suportaram ditaduras, já estão faz tempo acertando contas com o passado. Torturadores e assassinos foram identificados e vários deles processados, presos e condenados.
Com acusação formada, direito de defesa e penas previamente previstas, está se fazendo justiça, não revanchismo. Atribuem-se a réus as garantias que aqueles que lutaram contra a opressão, punidos em excesso nos anos de chumbo, jamais tiveram acesso.
Nesse campo, o Brasil caminha a passos trôpegos, com a omissão e leniência dos últimos governos, ainda constrangidos com a “questão militar”, e a complacência da Justiça.
A função de uma Comissão da Verdade é esclarecer fatos que pela covardia dos agentes que os praticaram e diante da força do regime autoritário ficaram por décadas escondidos.
Defender esta ocultação é prestar reverência à censura. É um paradoxo louvar a liberdade de expressão e ao mesmo tempo opor-se ao conhecimento da verdade.
A punição dos sequestradores e torturadores, que não é função da Comissão da Verdade, ainda é uma questão em aberto.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos não reconhece qualquer ato de autoanistia que impeça o julgamento de crimes contra a humanidade. Trata-se de uma jurisprudência internacional fortemente consolidada, que, aliás, extravasa aos exemplos da América Latina.
No julgamento do caso Araguaia, mesmo ciente da decisão do STF de não rever a lei da anistia, a Corte da OEA expressamente determinou que todos os agentes públicos do país, aí incluídos os membros do Ministério Público, devam afastar os obstáculos para a apuração e julgamento dos delitos.
Torturadores no governo militar escolheram a violência e os porões para tentar extorquir verdades; a democracia vai fazê-lo em público, sem dor nem sofrimento, nos termos da lei.
O país não pode conviver com filhos que até hoje não sabem o destino de seus pais, porque aqueles que os sequestraram viveram de esconder seus atos, e com estes, os corpos de suas vítimas.
A resposta do governo ao espernear de saudosos da ditadura deve ser firme: instalar e fortalecer a Comissão da Verdade.
Causaram alvoroço? Onde? A não ser um primo meio panaca que eu tenho ter mandado um email a respeito, nada mais fiquei sabendo dessas almas fardadas e penadas que inventaram esse "manifesto". Como se diz aqui no mato: "tem gente que vira assombração antes de morrer". A não ser o fato de terem saídos do limbo onde estão sepultados, esses "reformados" não causaram alvoroço algum. Graças a Deus.
Para que não pensem que sou contra a comissão da verdade leiam meu comentário que fiz no texto acima. O tenho na verdade é uma dúvida, foi dito que há jurisprudência internacional caso o país queira punir os torturadores, mas há tamem jurisprudência nacional no sentido de "não tocar" na lei de anistia. O autor do texto tocou no assunto mas como se resolve essa situação? E outra dúvida é: quem lutou contra o regime utilizando-se de práticas criminosas serão passíveis dessas punições? Como ficaria o caso da nossa presidente? E ao contrário do que o companheiro do comentário acima falou, esses "defuntos fardados" ainda tem causado estardalhaço sim afinal tenho notícias dele aqui na minha roça. RSRSRS Gostaria de obter respostas a essa pergunta Doutor.
Feliz do Sidney, que UM só primo panaca. Eu tenho de penca afora os amigos… Alguns chegam a peerguntar-me de qual ditadura estamos falando? Que aquele tempo sim que era bom, não tinha corrupção, bla bla blá….